VIOLETA

Vem, oh sócia do poeta,
Oh, minha casta violeta,
Emblema de oculto amor!
Com tua fragrancia amena
Me suaviza e serena
Esta alma sempre em rumor.

Vem, oh flor! Porque te furtas?
Da vida as horas são curtas,
Se esvaem, filha de Deus,
Como novelos de espuma;
Vem, esconde-te e perfuma
Os últimos dias meus.

Esconder-te! – e que outro asilo
Mais carinhoso e tranquilo
Acharás, querida flor?
Pois teu roupão verde-escuro
Será mais belo, mais puro
Que o manto do nosso amor?

Perfumar – ah  nunca ou tarde
Acharas vaso que guarde
Teus aromas como aqui.
Nesta alma que te retrata
Como, sobre águas de prata,
Debruçada guaraní.

Vem! Triste, na haste abatida,
Vegetarás toda a vida?
Murcharás na solidão?
Si te cercas de mistério,
Poruqe desprezas o império
Num profundo coração?

Não, oh não! Terei coragem;
Entre a mimosa folhagem
Nua te irei surpreender;
Teu calix roçando apenas,
Beijar-te como as falenas,
De teus perfumes viver.

Que importa o mundo que clama,
Se revolve e se desama,
Como em acesso febril!
Foi ele quem deu-te as cores,
Quem te alimentou de amores,
Minha bonina gentil?

É da noite o orvalho frio,
Quando o dissemina o estio,
Que alento e vigor te dá;
Recama-te a lua as vestes
Com suas tintas celestes…

E o mundo? QUe te dará?
Da solidão somos filhos!
Abranda estes duros trilhos,
Co'o perfume; dorme, flor!
Terás zéfiro em meu canto,
Terás orvalho em emu pranto,
Terás vida em meu amor.

                                     Paulo Eiró

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