A HORTÊNSIA AZUL

A hortênsia é o azul do céu despetalado
em delicados e gentis buquês
que se unem ridentes, lado a lado,
ante a minh'alma e os olhos de vocês.

Vejo na hortênsia o azul imaculado,
o azul mais azul que Deus já fez,
e, por ser uma flor de meu agrado,
se colho uma planto logo três.

Ela é feita do azul de um céu tão alto
— as verdes folhas como cercadura —
por isso enfeita os paços imperiais...

E eu a canto, a festejo, enfim, a exalto,
por ser uma flor feita de ternura
e de um azul que não há dois iguais.

Do livro: Sonetos, O Recado Editora, 1995, SP


GERÂNIOS


O semelhante estranha o semelhante,
e há gerânios gentis pelos beirais.
Estes se reconhecem mais e mais,
enquanto que os humanos são distantes
de seus irmãos, que são remanescentes
de um século que treme em seu final.
Há gerânios até fosforescentes
das cores do infinito e do ideal.

Olhai as flores, frágeis companheiras
do homem que se julga absoluto.
Nascem, vivem, dão volta à esfera inteira
e a vida delas dura um só minuto.

Amai-vos, vós que tendes forma humana
porque os gerânios se amam nos beirais.
Fpra da área inspída e profana
as flores vivem pouco e amam mais.

                                               Elisa Barreto

Do livro: Poesia, Ed. autora, 1999, SP

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