BOA-NOITE
De repente o céu fez-se rubro
Mas me esqueci de ver o pôr do sol
De repente o quarto estava escuro
E nas teias acumulava-se o pó
O rádio tocava o bom e velho Raul
No teto as estrelas falsas brilhavam
Mas eu não vi a estrela Dalva no Sul
E nem as moças novas do bairro
Eu segurava um retrato e uma carta
Pensando no passado e no nada
Mas não ouvi o gorjear do último pássaro
E nem percebi o avançar do horário
Meus gatos roçavam minhas pernas
A água para o café evaporava
Mas eu não vi quando chegou a madrugada
Trazendo nuvens cinzentas, incertas...
Um raio caiu distante como um açoite
E de repente compreendi tudo
Eu não queria mais nada do mundo
Queria apenas te dar boa noite.
Marcel de Alcântara