Viver em Bagdad
 
É transpor a escuridão do olhar
Para o negrume de todos os dias
 
É espreitar pelo quadriculado das burcas
as fotografias do tirano em todos os lugares expostas
 
É afabar com areias nuas
Os sonhos de avançar, sufocar as mulheres indefesas
 
É carregar até ao fim do mundo
As cadeias de ouro negro escondidas
 
É tremer esperando o horror nas casas ameçadas.

Maria Petronilho


As mulheres que ando lendo

Estou lendo as mulheres
que desfilam por aqui
Estou lendo
e como entendo
versos desencarnados
destas tão encarnadas
Esmaltes cintilantes
de um sangue escarlate

Estou acompanhando seus passos
em cada linha
em cada entrelinha
subtexto
novelesco ou não
Um tipo menos
um tipo mais romântico
mais todos os tipos morenos
ainda que loiros

Um samba no pé
mesmo que não haja
um molejo na cintura
que só mulher brava
mulher de atitude
feito leoa no cio

Eu mio
a cada latido voraz
que elas ladram
e me assombram seus perfis
seus quadris
úteros similares
jamais iguais
por onde passa poesia
iguaria permitida a poucos

essas mulheres que leio
desabrigam o que vai por dentro
o que vai no seio,
não há esconderijos
ou sibterfúgios
Pegam as coisas de Deus
e atiram

Estas mulheres que leio
maravilhosamente
me matam.

Patrícia Evans

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