Se não sou claroA Waly Salomão
Na memória
se não sou claroAntonio Júnior
e algaravias me espreitam,
canto o seu canto à flor da pele
e não tenho vontade de morrer.nesse canto pousam expressões
não sobre o infinito
mas do que me esconde
do que sinto e não sei.se canto o seu canto
na esquina, escondido, nefando,
não sou eu,
é sua música-poema
que incensa a esquina.nave viajando
sertões sírios lírios
é você que explode
em polifônica eloqüência
portadora de humanidade.Luiz Gonzaga Neto
Não Existe Paraísopara Waly
Não acontecerá o milagre previsto (assim creio)
Nada vai mudar inesperadamente
Estou só na caverna: isto é uma aventura lírica.
Enquanto a memória contempla o trovador
que parte através de palavras
Vejo-o, invisível na luz,Seria o caso de derramar lágrimas?
Por que razão olho assim o infinito enquanto
nada mais que uma dor atravessa a Bahia deserta?
Mas aqui estão os versos, a melodia,
o riso e o escracho.
Não devo render-me a melancolia,
a falta também há de passar:
a saudade é afeição povoada de sofrimento.Ah, sacanagem, o poeta de boca de largos sorrisos
regressa ao murmúrio onde se abriga
o abstrato eletrizante,
rumo aos jardins que não se acabam.
Adeus, baby. “Não existe paraíso”, responde, perdido
nos jardins pop-eruditos
com flutuantes árvores-parangolés.
É o caminho que todos nós, poetas,
fartos de vidinhas literários, tomaremos um dia.
Não há outro.