Somos de carne e osso

            Para a árvore centenária que vi em Botafogo - arrancada pelo vendaval

A paisagem era devastadora
em meio ao sol

Ali
tombada
a centenária árvore permanecia portentosa
raízes imensas  arrancadas
terra envolta em cimento e pedras da calçada
tragadas pelo asfalto negro e nu

[o chão parece ter-se envergonhado
no exercício de engolir todo um sem-fim de significados]

Árvore
tu  que nos imensos galhos leves
possuis gostosas sombras quase - oásis
no verão

Árvore
tu que em teus braços de mil dedos
és o símbolo da mãe apaixonada
teto  porto
casa  templo
luz
perdão

E tu   poeta
nesse instante órfão de sentidos figurados  para a dor
possas a ti mesmo conceder
um pouco de clemência

ao relembrar até que ponto pode ir a tua falha
e só humana

(r)esistência

                                                                                Eliana Mora

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