Trinta Anos sem Wlado (História para jovens e velhos)
Wlademir Herzog foi suicidado há trinta anos,
tendo amarrado no pescoço um cinto
que preso não tinha direito de usar.
Sentado numa cadeira, talvez,
pendurado de uma altura que o fez,
semi-ajoelhado, ser fotografado...
Não se queria mártir,era apenas transparente,
esse homem muito inteligente
que segundo Paulo Markun,
ainda entre nós, testemunha viva,
entre uns poucos,
de sua tortura,
lembra que Wlado proclamava
dever "a ARTE, de servir á coletividade".
Rodolfo Konder
lembra com nitidez, do suplíciodo colega jornalista
diz dos gritos, gerados por socos,
depois os gritos provocados por choques,
(depois gritos abafados do martírio)...
Nem que a esposa em lágrimas se afogue,
nem que os chamados dos filhos enrouqueçam
nem que as pessoas que percebem tudo
que está escrito nas entrelinhas
conheçam os segredos da tinta invisível,
que ouçam o inaudível e decodifiquem
o que não pode s er dito,
não voltará em corpo o jornalista Herzog:
não voltará nunca mais voltará...
Calem-se, por favor, pois a dor dos gritos
de Clarice, a companheira, ainda ressoam,
a solidão dos filhos que esperam o pai
que não mais voltaria, ainda ressoa nos caracóis do tempo.
Calem-se um pouco e ouvirão Wladimir Herzog,
cidadão brasileiro de origem judaica,
pois ele não morreu:
há trinta anos vive em outra dimensão
curados os ferimentos, à espera
de que o Brasil melhore.
Vamos ajudar a realizar esse sonho
do Wlado, aquele que se foi mas ficou,
que mataram, mas não se matou
que está do outro lado, mas permanece
na memória de um povo:
"Através das letras e das Artes,
a coletividade se estruturará melhor".
Não vamos deixar que o sonho de Wlado
se esfumace ...
A Memória do tempo,
a História recente,
a vitória do povo,
os que são homens de novo,
não deixarão que a Paixão de Herzog
seja explicada de maneira difer ente...
Cabe a nós alimentar a chama do fogo sagrado,
o círio votivo, levar a luz da verdade
através dos túneis da história.
Há trinta anos, Wladimir Herzog é redivivo,
ressuscitado, renascido.
Todos os dias, renasce, cresce,
existe.
Há trinta anos.
Clevane Pessoa