QUINTANESCENDO

Não sei se percebeste,
mas quando partiste
várias ruas, com seus cataventos,
vieram dizer-te adeus.
Eu as vi, mas com os olhos
de minha alma.

Que pena! Partiste
e eu não pude te dizer onde perdi
as sandálias de minha infância.

Apesar da Lua de sempre
minha infância não teve atrativos,
não teve ruazinhas, nem cataventos...
Não havia poetas por ali.

As ruas de minha infância
eram íngremes, pedregosas,
machucavam nossos pés
e os versos não prestavam,
saíam áridos, doloridos...

Talvez por isso
eu nunca sonhei com essa Glória,
que chamaste de “irrisório chocalho
de guizos e fitinhas coloridas”.
Queria apenas escrever um poema
simples como a tua alma,
para falar da Lua que aparecia
no alto de minha rua,
de minha rua íngreme,
pedregosa como a minha vida,
tão diferente da tua!

Quando eu era menino,
palavras e nomes tinham cores.
Quintana era um nome
da cor da Lua Cheia de minha terra.
Ainda hoje, sempre que ela aparece
toda a rua se ilumina,
minha alma se faz menina
e aos poucos... quintanesce.

Thalma Tavares

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