SONETO DO POETA ITINERANTE

Após passar, também, por tanto atraso
aeroportuário, resolveu
Tavinho Paes fazer como fiz eu:
sair do Rio em ônibus... Deu azo:

Na Dutra, um acidente interrompeu
o tráfego! No tempo do Parnaso
não era assim: poetas tinham prazo
de sobra, até nas idas ao museu...

Cansado, esfomeado, ele em Rezende
refaz-se e volta ao ônibus. Despende
mais horas, mas relaxa, e até cochila...

Acorda, mas no Rio! É como narro:
entrara, na parada, em outro carro!
Perdeu até seus livros na mochila!

                 (Após ler o Soneto do Poeta Itinerante, veja a continuação do tema por Leila Míccolis)



       DOS JORNAIS: "...ministros minimizam o problema aéreo..."


SONETO DA PASSIVIDADE DO PASSAGEIRO

Se estupro é inevitável que soframos,
dizer "Relaxa e goza!" é boa dica,
mas, quando de avião nós viajamos,
conselho assim jamais se justifica...

Ministra do Turismo? Convenhamos!
Não passa essa mulher por tanta zica!
Portanto, não desdenhe dos reclamos
de quem não quer no rabo a dura pica!

Viaja de jatinho militar,
a salvo desse atraso que, num ar
tão vasto como o nosso, não se admite!

"Estupra, mas não mata!", disse quem
achava que nem mesmo o ativo tem
direito de foder-nos sem limite!

                                           Glauco Mattoso

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