"Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!"
Medeiros de Albuquerque e Leopoldo Miguez (*)
AINDA QUE TARDIAAbre as asas sobre nós
Ainda que seja tarde
Desamarra estes meus nósPermite-me dobrar a esquina
Sem ver mais uma chacina
Deixa-me alimentar o sonho
De que tanto me envergonhoDesce as asas sobre nós
Acolhe-nos e protege-nos
Mesmo que estejamos sósIncentiva-me a repartir
Dá-me a dor de consciência
Dá-me a tua sapiência
Faz-me enxergar o que é óbvioTu que enfrentaste a História
Que partiste na ascenção
Não nos permitas a morte
Sem saborear tua glóriaFecha as asas sobre nós
Não deixes que a fúria fira
Não mandes a desesperança
Rufla o máximo que possasSorri para mim ao acordar
Faz chover no semi-árido
Controla os aluviões
Dá fartura aos embriõesElimina o sensacionalismo
Dá chance a todo artista
Defenestra o mercenário
Que quer o nosso salárioSolta a pluma sobre nós
Para que enxerguemos cores
E sintamos teus olores
Avoluma a tua vozAjuda-nos a ver o rosto
Dos que pregam o oposto
Dos que usam o teu nome
Mas que distribuem a fomeQue desabe sobre nós
Cada ruga de tua personalidade
Cada marca do teu sofrimento
Para que tenhamos tua consciênciaTudo pode mudar facilmente
A fragilidade é a tônica da vida
Todas as conquista nada significam
Novos rumos podem debilitar os inatingíveisFecha as asas e protege-nos
Não nos deixes aqui sozinhos
Reverbera os teu exemplos
Para os vendilhões do temploNão te acanhes com a ameça
Constante que te fazemos
Põe ao largo tua asa
Distribui as tuas penasDerrama teu sangue quente
Sobre cada um de nós
Cicatriza tua ferida
No calor das nossas vidasIgnora todas as chantagens propostas
Desce batendo as asas com a força exata
Nem tão forte que nos tire o norte
Nem tão lento que nos tire o ventoFelipe Cerquize
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(*) Hino da Proclamação da República: Letra de Medeiros e Albuquerque (1867 - 1934), e música de Leopoldo Miguez (1850 - 1902). Publicado no Diário Oficial de 21 de Janeiro de 1890.