Soneto a Fernando Pessoa

Não, não digas nada! Por ti sublimo
a voz que cala e silencia a dor
e me destrata e faz da vida a cor
de uma tristeza vã que ora reprimo.

Em cada flor despetalada ao som
dos colibris em cio assim no alvor
espelho à sombra o teu formoso dom
de sentir muito além de teu sabor.

Suponho então que me dirias ser
da noite o vento que alivia o ardor
e a chuva em pranto com seu bendizer.

Não ser poeta é não sentir a dor
de estar na vida e não engrandecer
a nobre audácia que nos faz viver.

                                 Márcia Sanchez Luz

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