SARAMAGO NA ILHA

18 de agosto de 1999.
Sentamo-nos juntos, à beiramar,
celebrando a arte da palavra.

Ali estavam escritores,
sonhadores incuráveis,
e em fotografias revelaram-se felizes.

Falei dos mortos que protestam
em Antares, de Veríssimo.
Em silêncio, ele ouviu.

Falou dos vivos que se calam.
Em respeito, silenciei.

Então versamos sobre as ilhas.
A dele – foi dizendo – não tinha nada
da verde exuberância desta aqui.

A nossa – disse eu – tem agora
um pouco da distante Lanzarote,
um tanto das Canárias.

Brindamos à mútua nostalgia.
Formávamos, sós, o arquipélago
onde o mar é o verbo
que dia-a-dia nos redime
dos imensos vazios do existir.

                                     Alcides Buss (*)

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(*) N.A.: Em agosto de 1999 recebemos o Saramago aqui na Ilha, ocasião em que a UFSC lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa. A UBE/SC, na época presidida por mim, organizou um encontro de confraternização, realizado à beiramar, num restaurante em Santo Antônio de Lisboa. O Saramago estava descontraído, sorridente, feliz. Enfim, estava no seu mundo, reunido com escritores. Fiz um pequeno texto evocando esse momento mágico.

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