GUERNICA
Todos os dias eu como peras
dessa natureza quase morta.
Com Guernica, abro essa triste porta
de um cúbico horizonte de tenras
linhas de cadáveres, exposta
na luta de irmãos do mesmo sangue.
Um arlequim azul dorme exangue
esperando a hora dessa posta:
pasto de gaviões cegos pelo
rubro vinho do lago vermelho.
A vida por um fio de cabelo,
e por um fio de vida o desvelo
no pincel, a tela em turvo espelho
a refletir mais que gênio o apelo.
Anibal Beça