Não o corvo  de Pöe com seu "nunca mais, nunca mais, jamais,
never moore, never moore forever"...
mas um passarinho desses pardaizinhos 
para os quais
coloco painço e pão e frutas 
em meus beirais 
pelo egoísmo de atraí-los  mais
para vê-los
chilrear e dançar
e tatalar as asas,
a  voejar, 
acorda-me e insiste:
"– Podes continuar triste
porque foi-se seu avozinho poético,
aquele que nasceu para a singularidade 
do dizer plenificado de encantamentos".
"Não mais, não mais", chilreia,
insistente.
Mas a aranha grávida de mil aranhinhas,
qual ele de versos e imagens cotidianas, 
consola-me de sua teia forte e poderosa:
"– Ele continua , agora com outro tipo de presença.
Viverá enquanto o lembrares,
neste   tempo imediato, transitório,
estará em cada passarinho!
Lembra-te que para os egípcios, 
o BA, pássaro-alma, carregava o espírito 
dos que deixavam o casulo corporal."
"– Sei disso, sei mesmo"
responde-lhe meu self em lágirmas.
Por isso não o ouvi
nos nobres e raros pássaros canoros
ou de plumagem multicolorida."
Sua humildade permitiu
que, riquíssimo de singularidade, 
fosse apenas passarinho,
vivendo aqui e em outra dimensão
ao mesmo tempo, 
pacientemente
aguardando  o desprendimento final
enquanto nos passarinhava versos e prosa.
Sinto que perdi meu avôzinho espiritual, mas não perdi de fato...  continuo a colocar paiço e pão e frutas nos beirais do muro de meu terraço e a olhar seu retrato.

Clevane Pessoa
BH, 14/11/2014

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