Passa-Tempo

Sou do tempo do cheiro de álcool
no papel novinho das provas
Quando se jogava amarelinha
pique-pega, pique-esconde, elástico
Trocava-se e colecionava-se figurinhas

Colecionava-se selos e papéis de carta
Decorava-se datas históricas e associava-se
imaginando fatos em diversidades geográficas
Comprava-se bala na cantina, usando conga
kichute ou melissinha. Lia-se todos os gibis.

Andava-se de bicicleta dia sim, no outro também
Pedalava-se de manhãzinha, tarde ou madrugada
Ia-se na vizinha só pra não perder o hábito
Estocava-se chiclete pra levar de lanche pra escola
Brigava-se com os meninos só pra sair do tédio

Tomava-se caipirinha escondida nos churrascos
Enchia-se de açúcar pra tirar o amargo
fazia-se toda força pra não demonstrar a careta
sentia-se queimar a garganta e um gosto ruim pra capeta
fingia-se gostar e matutava o que teria de bom naquela coisa

O copo na mesa, mãoszinhas, mentes arteiras
chamando por espíritos, ansiosas, semi-feiticeiras
senhores do passado remoto, ou não, sendo acordados
o clima, já pesado,  um bando de meninas
sem juízo, a brincar com o desconhecido, quem vai... quem fica...

                                     Tania Montandon

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