SAUDADE

A saudade da amada criatura
Nutre-nos na alma dolorido gozo,
Uma inefável, íntima tortura,
Um sentimento acerbo e voluptuoso.

Aquele amor cruel e carinhoso
Na memória indelevel nos perdura,
Como acre aroma absorto na textura
De um cofre oriental, fino e poroso,

Entrana-se, invertera-se, — de jeito
Que do tempo ao volver, lento e nocivo,
Resiste; — e ainda mil pedaços feito

O lígneo crescer que o retem cativo,
Cada parcela reproduz perfeito
O mesmo aroma inalterável, vivo.

                                     Teófilo Dias

Do livro: "Cancioneiro do amor - os mais belos versos de poesia brasileira (Arcades, Românticos, Parnasianos)", org. Wilson Lousada, 2ª ed., 1952, Livraria José Olympio, RJ

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