Último soneto
Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes – e vieste...
– Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste –
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a cor se trava?...Paris - dezembro 1915
Mário de Sá-Carneiro
Do livro: Poemas Completos, Assírio & Alvim, 2001, Lisboa/Portugal