crônica de uma ausência anunciada
dizer-te o quanto é duro estar assim
(se tudo em quanto crera se desfaz),
se o tu que em ti eu via era em mim:
que verei mais?
dizer-te o quão difícil foi ouvir-te,
se em tudo o que dizias - por demás -
buscava o tu que eu via destruir-me:
que ouvirei mais?
dizer-te que eu - então - mal entendia
a ira que alterava a tua voz
e a treva que teu negro olhar vertia
por sobre nós.
dizer-te que - talvez - entenda agora
(embora tu te percas em bemóis)
evitas-me a resposta e peroras,
falseando a voz.
dizer-te que é assim - neste momento - ,
(clareiam-se os motivos por detrás?)
não peças que me esquive ao sentimento
de não ser mais.
e deixa que esta dor se espraie e fique
um tempo impreciso dentro em mim,
amor que vem faz outro ir a pique:
diz-se então fim.
não sei dizer-te - hoje! - o que virá
(pois disso se encarrega o amanhã):
qual tu dos teus, em mim, firmar-se-á
noutra manhã?
portanto não estranhes se eu sumir,
(de todo bem-querer eu me ausentar),
se um tempo há de ser e um de partir:
por que ficar?
dizer-te: guarda tudo o que tivemos
(talvez bem te compraza tê-lo ainda)
um pouco há, do tanto que nos demos,
que não se finda.
e segue adiante e cuida: sê feliz.
prossegue o teu caminho a céu aberto.
se um gesto te lembrar quanto eu te quis
: estarei perto.
Márcia Maia4º lugar no VII FestCampos de Poesia Falada 2005, de Campos dos Goytacazes