BUENO BRANDÃO, MG
Corujas, rãs, grilos
e as estrelas.Todas
as estrelas do mundo.
Um cachorro longe,
uma vaca mugindo
na montanha, o leite
da via-láctea.A bilha quebrada, tanto
leite derramado
sobre as estrelas.No crepúsculo as nuvens
são pedras de sol.
As araucárias, a dança
das araucárias paradas
no horizonte.Uma cerca entre
a terra e o céu
e as nuvens com o sol
dentro.Caem pedras vermelhas,
são brasa e cinza viva.
O monte verde,
o mundo verde.
O verde veste o mundo
ao sol da tarde.As garças boiadeiras
sobre as vacas.O mergulho branco
das garças
entre as vacas
no monte verde.As siriemas bicam o dia
na porta
da cozinha.O menino Tales
arregala os olhinhos.
E quando pinga a dor dos olhinhos
conta para a vaca Cá
e sara o dodói.
Soletra a terra
verde e a bezerra é a
Cazinha.As pedras na estrada,
o cristal de
quartzo rosa,
o sol, o céu, os
teus olhos
líquidos nas pedras.
Olhamos Bueno Brandão quieta
como um ninho,
aconchego de lareira íntima ao pé
da serra.A igreja de São Bom Jesus da Pedra Fria
sentada com ar de família,
Jesus com os joelhos ossudos sentado
na pedra.Tudo é descanso e pedra
neste lugar.E como nos cansamos nas trilhas
verdes das cachoeiras.Pedras, águas,
águas, pedras,
pedras, turbilhões
de água nas pedras
em nós.As pernas trêmulas de cansaço
subindo,
descendo as
trilhas verdes,
somos grandes.O sol paira como um deus vermelho sobre a serra verde.
José Carlos Mendes Brandão
3º lugar no 1º Prêmio Off Flip de Literatura, 2006, Paraty/RJ