DESMUNDO

Do meu sonho de infância,
resta uma folha amarelada
de um inventário inacabado.
Este muro sobre o mundo,
desmundo de tudo o que vivi.
Dos retratos e lembranças,
dos pardais que habitavam aqui.
Tenho uma folha envelhecida
e o sonho de beber vinho de uva.

Os meninos que brincavam aqui,
nas ruas, becos e quintais,
ficaram depois deste muro
sobre o mundo, desmundo.
Ouço o murmúrio depois do muro,
das lembranças das colheitas de uva,
do sol depois da chuva.

Desta folha envelhecida resta a saudade
dos meninos depois do muro,
dos pardais bebendo chuva
acreditando ser vinho de uva.

                                          Lurdiana Araújo

2º lugar no XXIII Prêmio Internacional de Poesia Nosside 2007, Itália

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