A FAINA DOS DIAS

“Escrevo para esquecer que morro”
Guilherme Gonçalves

Se o poeta escreve para esquecer que morre,
qual o sentido dos versos não escritos?
daqueles rascunhos, ideias, florações
mal concebidas,
qual copo de vinho não bebido?

Se o poeta escreve para esquecer que morre,
seriam os versos uma fuga,
a antimatéria do cosmos,
o escapismo da própria literatura?

Se o poeta escreve para esquecer que morre,
seria a morte uma invenção
para que ele próprio possa escrever?

Não, se o poeta escreve para esquecer que morre,
é porque na fecundação
a morte perde espaço à vida
e o homem vive todos os dias
driblando o próprio fim,
a própria contradição.

Por isso o poeta escreve
não para esquecer a morte,
mas para brindar
a vida que é presente.

                                    Luiz Otávio Oliani

1º lugar no "Prêmio FEUC de Literatura - 2009", categoria "Comunidade", RJ

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