NO ROÇADO DA VIDA

Lavrador, bem cedinho, plantei
(numa carreira, sim, outra não)
a semente do amor
e o grão verde da esperança
no meu roçado da vida.
E, após, fui limpando, limpando...
"entupindo mato",
com a minha enxada "jacaré"
e o facão "rabo-de-galo".

E quando frutificou,
preparei-me para a colheita
muito farta, muito rica
no meu roçado da vida.

Mas, que decepção!
Toda aquela sementeira
que plantei suorando,
tudo aquilo se acabou,
como a botija que o Chico
cavava "cum imbição"...
Tudo virou carvão!

Pois bem: aquela fartura toda,
da semente do amor
e do grão verde da esperança,
como a botija do Chico
se encantou: virou saudade,
saudade, recordação...

Só a esperança ainda é viva
(de teimosa que ela é)
no meu roçado da vida.

                 Kideniro Teixeira

Do livro: Iluminuras da Tarde, Blocos, 2000, RJ

« Voltar