PARA UMA VELHA PERGUNTA [soneto 2046]

Accerca do motivo por que escrevo
perguntam-me outra vez... Respondo ja:
si espero, na cegueira, ser longevo,
para mactar o tempo não será.

Ganhar dinheiro? Fama? Não me attrevo
a dar dessas respostas. Quem as dá
até pode ser franco, mas relevo
seu nome só na lapide terá.

Escrevo porque, cego, ja não leio.
Si abuso, ao versejar, do nome feio,
é para não fallar, na rua, à toa...

Escrevo e não me drogo, nem me macto.
Escrevo porque vivo, e fico grato
ao verso, ja que a vida não é boa...

                                         Glauco Mattoso

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