A Vida

              À Filomena Sabino

Oh! miserável grão de pó abjeto
Que tantos dissabores nos há dado
T'enchafurdas no lodo e no trajeto
Da existência, mau é teu duro fado.

A criança, ao nascer, um grito solta,
Sente o frio nas carnes penetrar,
E na luta estridente da revolta
Tu, oh! vida, a corrompes sem matar.

Se p'r'alguém tu és mãe e não madastra
Cedo ou tarde lhe mentes, e isto basta
A crer-te a fada ruim, vil, traiçoeira

Que aquele que por ti é corrompido
Volve os olhos ao céu enternecido
Como o náufrago em ânsia derradeira!

                                                 Ignez Sabino

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