CUSTO DE VIDA

Garçom, faça as contas
e diga-me quanto devo.
Ah, o que consumi?
Amor, café, mágoas, lágrimas, solidão e um doce.

— O senhor só me deve uma vida e dez centavos.

 

 

VIDA BESTA

Êta vida mais besta
esta que a gente tem que levar
fingindo-se cego, burro e louco.
Êta bebida mais amarga
esta que a gente tem que tragar
fingindo-se contente, bêbado e livre.
Êta vida mais doida
esta que a gente tem que entender
fingindo-se capaz, sábio e sério.
Mas nada posso fazer para conter
este derrame de lágrimas
que a vida besta espreme até secar.

                                           Raul Miranda

Do livro: No ar, Ed. autor, 2ª ed. 1978, RJ


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