O MINEIRO

Herói como os heróis da Grécia em rumo ao porto
Da Colóquida no ardor da aurífera conquista,
Ei-lo a encosta a escavar, na crença de que exista
O almejado filão, que viu no sonho, absorto.

Luta feroz, minaz, sem trégua e sem conforto;
E, posto que a montanha aspérrima resista,
Brandindo sempre o alvião, fitando a fundo a vista,
Há de o veio ferir ou estatelar-se morto!

Investe... Falta-lhe o ar. O acrólito intradorso
Da galeria o fere. E mal se lhe equilibra
No antro sem luz o corpo ousadamente torso!

Mas investe... A exaustão empolga-o, fibra a fibra.
De súbito, entre a glória e o horror do extremo esforço,
Cai num grito... e o filão relampagueia e vibra.

                                                          Luís Carlos da Fonseca

Do livro: "Antologia da Academia Cadeira 18", org. Arnaldo Niskier, ABL, 1999, RJ

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