O TECELÃO

A manhã se antecede
no aviso do apito.

A chaminé indecente
descortês e arrogante,
coage os passos
no meio da rua.

Vai o homem<
quase nu de esperanças,
correndo contra
o pêndulo,
abraçando a solidão
do dia ainda sem gente.

O portão o agride com a espera
e os teares não vacilam nem perdoam
os fios se movem cerimoniosos
e a rotina se espelha
no rosto sem tempo dos homens.

O tecelão fia um matiz
e não consegue tecer
o amanhã.

Suor e algodão
repondem à saída
com fadiga e limites.

Amanhã
um novo ruído
engolindo o sono
vai reger um trajeto imutável.

                                  Ronaldo Cagiano

Do livro: Colheita amarga e outras angústias, João Scortecci Editora, 1990, SP

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