PARÁBOLA

Trabalha diligente o velho jardineiro,
de cuja mão depende a sorte do jardim.
Cuida de cada planta e de cada canteiro
e seu árduo labor parece não ter fim.

Sua mão despejou a alegre sementeira
no solo que ela mesma adrede preparara,
e é sua mão que aduba, e escora, e poda, e joeira,
dentre as flores que cria, a mais bela e mais rara.

Mais que todos, conhece o valor do trabalho.
Mas sabe ele também que, da raiz ao galho
e do caule à corola, o anélito, a palavra,

o sopro, a seiva, o canto, a lúcida placenta
não é ele o demiurgo, o pródigo que a inventa,
e é preciso esperar que a rosa aos ventos se abra.

                                                Anderson Braga Horta

Do livro: De viva voz, Thesaurus, 2012, Brasília/DF

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