Minha infância

Minha infância
tinha ares
de cidade de interior
em pleno Rio de Janeiro.
Dos três filhos
fui quem nasceu
primeiro.
Criativa,
armava cenários
teatrais nos quintais
da vizinhança,
pobre de distração.
Minhas idéias eram
a atração
esperada.
Havia alegria
no ar,
dignidade na pobreza,
talvez fato comum
naquela época
hoje longínqua
já que sou
uma senhora.
Guardo esses fatos
indeléveis
na memória.
Nostalgia
me envolve.
Penso nas crianças
de agora.
Quisera tivessem
um pouco
daquela hora.
A poesia,
o encanto
num subúrbio esquecido
que hoje,
infelizmente
virou curral
de bandidos

      

Boneco nu

Lelei passa pra mim
um boneco nu
e me pergunta
se gosto de sua roupinha.
Respondo simplesmente
que o boneco está nu.
Grande briga
que tivemos!
Ela destruiu a casinha,
estraçalhou as roupinhas
e disse que eu
não sabia  brincar,
pois não tinha imaginação.
Tínhamos seis anos.
Tia e sobrinha

                                         Belvedere



 

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