ÚLTIMO NATAL

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.

                                                  Miguel Torga
                                  Gaia, 24 de Dezembro de 1990

Enviado pro Helena Monteiro

Natal

Menino Jesus feliz
Que não cresceste
Nestes oitenta anos!
Que não tivestes
Os desenganos que tive
De ser homem,
E continuas criança
Nos meus versos
De saudade
Do presépio
Em que também nasci,
E onde me vejo sempre igual a ti.
    Miguel Torga
        24/12/1988
Enviado por: Márcia Maia

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