NATIVIDADE DE JESUS
(fragmento)
Oração da Mãe ao Filho Recém-Nascido - Grandeza e Pequenez

Ó Deus onipotente,
a quem a ingente máquina do mundo
       proclama seu Senhor e Autor,
Cuja Glória imensa gera em si
       fulgor inigualável,
que te vestes da luz como de manto natural:
A ti que os céus conter não podem
       em tua extensa nave
fechou-te o estreito cofre de meu seio!
Tenro menino, deixaste o meu sacrário,
e jazes, ó minha luz, no chão escuro!
       Não foi tua mão possante,
que arrancou do nada o universo?
Não é a ti que serve de polo a polo a terra?
Por que escolhes para nascer tão vil morada?
Por que não é teu nascimento em câmara real?
       Tu vestes o céu de estrelas
e os animais de variadas peles
       os campos de gramados verdes;
E tu, nu a vagir e a tremer no duro chão...
a espremer-te lágrimas das tenras pálpebras
       o despiedado inverno?
Ó meu Filho, glória do céu, igual ao Pai celeste,
que nasceste tão belo do meu seio!
Ó minha felicidade, que dor atroz me punge
       as entranhas de mãe,
       ao ver-te em tais tormentos!
Como te erguerei da fria terra, Filho?
Como tocarei com minhas mãos teus membros santos?
Ai! que me aterra a indiginidade
       e tua glória,
filho único de Deus me impede de tocar-te.
Mas, se assim deixar que o frio te açoite,
que a terra te machuque a carne tenra,
maior seria a despiedade do meu peito
       que a do frio,
mais dura a dureza do meu seio
       que a da mesma pedra!

                                                           Padre José de Anchieta

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