DE PASSAGEM

Traziam os olhos postos
nos astros, no rosto
do céu antigo
vinham com a certeza
das crianças na noite de Natal
para encontrar um brilho
nos olhos da mãe, um corpo
masculino adormecido 

Traziam a ilustração da viagem
e dos países onde começa o dia
a língua, uma estrela no ouvido

Chegaram e foram
abrindo entre o frio e a palha
do estábulo, os imponderáveis
presentes para a glória
do Menino. 

1980

 

A FESTA

Só o boi e o jumento comparecem
e os anjos em multidão
não desferem o cântico
que foi o céu caindo na noite 

Na grande hospedaria do azul
no mundo, ou apenas em metade
do mundo, as manjedouras dormem
vazias 

As mãos dos homens sentem
o que faz o coração, fecham
as janelas de Belém
uma vez mais sobre os ruídos
sobre quem passa preso à vida. 

1992

                                            J. T. Parreira

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