QUENTINHA

Foi danado,  calor no dia de ontem.

O sol deixava o olhar apertado,
O peso do ar esmagava suspiros;
História fervente de um calor do abafo,
Prévia do verão a empoçar os corpos no suor,
Que, sob o sol, desidratava...

A brisa era um bafo incandescente
Pinicando a gente,
Que assava...
Pensar fritava,
Locomover-se crestava;
O próprio ato de existir marcava como ferro em brasa.

Depois, choveu,
Mas, o capote das nuvens
Encerrou as horas numa ardente isquemia
- Como prever  os elementos,
Se eles mesmos
Destemperam seus humores?

Há rumores de que  o mundo,
Na verdade,
É um impulso que se afoga
Em meio a sonhos derretidos,
E o aquecimento em massa nos torna bando
De pastéis.

Enquanto que ali bem perto,
Bastando olhar pro outro lado da rua,
Água e pedras se divertem
Alisando mexilhões e cracas seminuas,
Marolinhas trocam abobrinhas
E, mesmo assim, ai, mesmo assim,
Quão  fugaz é o  frescor.

Verão, Virão, Veremos

Sob o lascar da canícula,
Esta figura ridícula
Pelas calçadas candentesarrasta
Seu abafado mau-humor.

É hora de almoço,
E não posso ficar assim,
Pensando mal de todos e
Principalmente de mim.
Crestando a esperança de paz
Enquanto avança o calor
Na morena arfante que passa,
No homem do coco, que berra
Sem terem a ver com o clamor
Do planeta aquecido em guerra...

Como se o ardor desse tempo inclemente
Queimasse o amor que conduz a gente
Gerando o permanente embaraço:
Afinal, o que fazem
Os que pensam que sabem
Pra deter o delírio
Desse globo que ferve?

                                                   Galdino Moreira Neto

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