Meu Soneto de Inverno

Madrugada... Já é muito tarde na vida!
Sinto sopros dos gélidos ventos da solidão,
Arrastarem pés cansados da diária lida,
E espalharem as saudades pelo chão.

Trago nas mãos alvas e nuas de esperanças,
A lã das luvas vermelhas que me aquecem,
O quê a alma e o coração não esquecem,
Por dor de amor ou velhas lembranças...

Minha face corada de vergonha e frio,
Emoldurada pelo gorro de abas viradas,
Reflete-se na água clara e congelada do rio.

Ó, Deus, ouça do meu peito o apelo:
Nesse inverno que enclausura emoções,
Não tarde em mandar-me o degelo!


Trovas de Inverno

Não há tristeza no inverno,
Como em qualquer estação,
Se abaixo do Pai Eterno,
Eu habitar seu coração.

***

A algazarra da passarada,
Sob a chuva na palmeira,
Leva a andorinha malhada,
A lembrar sua vida inteira...

***

Passei o inverno na chuva,
Sem medo me molhar,
Sou raposa a temer a uva,
Após descobrir teu olhar.

***

Meu reflexo cinza-inverno,
Ao parapeito da janela,
Ocultou a alegria amarela,
Do seu girassol interno?

                        Betha M. Costa