O azedo da vida

                                Para Augusto dos Anjos

tira da tua alma encarnada
o fel da tristeza que contém
chore por noites e madrugadas
escarre o veneno que te convém

invente um poema de amor
faça juras que não vai cumprir
engane o diabo com uma flor
reze para Deus no porvir

sonhe com quem te causa dor
faça amor selvagem sem fingir
grite e goze sem nenhum pudor

prove o sabor do dissabor
se embriague com o pior do licor
e de porre durma sem sentir

                                           José Benício

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