O POETA

O poeta molha a face
Seca o pranto e se levanta
Deixa o prato, deixa tudo
Só não deixa a esperança.

Escreve...
Rabisca...
Pára o carro num lampejo
Desce o morro
Amarra a fala
Afia a alma
Afoga a dor
Aflige a calma
Cospe fogo se preciso.

O poeta assume a culpa
Do buraco que matou
Da faca que cortou
Do fogo que queimou
Da água que afogou
Do ar que rareou
Da dor que se assolou.

Aniquila-se...
Perturba-se...
Mas logo se levanta
Corre atrás do que esquecera
Verte a culpa, a insensatez
Tira disto uma certeza:
Nunca deixa de sentir.

Márcia Sanchez Luz

Do livro: "No verde dos teus olhos", Ed. Protexto, PR, 2007

 

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