velório poético
a poesia morreu e está sendo velada
por uma comissão de poetas carpideiros
patrocinados pela academia brasileira de letras
eles choram em versos de amor aos grandes poetas
e aproveitam a ocasião para lançar seus versos
o enterro vem sendo adiado há alguns anos
para evitar que a união do defunto com os vermes
(os vermes que vivem sob a terra, que fique claro)
faça germinar e renascer a flor da poesia
não aquela das corbélias que lotam o recinto
mas a flor da poesia que nunca morrerá
mesmo que este mundo de matéria finde
ela permanecerá como um mistério sem porosidade
numa dimensão desconhecida
que é e será sempre seu canteiro imaterial
cruelmente inacessível
André Martins