O POETA

Ninguém saiba quem sou. Quero viver sepulto
Na minha solidão grandíloqua de asceta,
Preferindo aos clarões do mundo a luz secreta,
Que aclara, quando é sonho, e abrasa, quando é culto.

Perpasse eu pela vida aparentando um vulto
Envolto no pudor, como visão discreta.
Mas que surja, por fim, transfigurado em poeta,
Da crisálida azul em que o meu ser oculto.

E, através da efusão fecundante do dia,
Suba àquelas regiões de onde os sóis não se somem,
No equilíbrio importal da suprema harmonia.

E fique no esplendor que as eras não consomem,
Provando, pela glória estranha da poesia,
Como pode caber um deus dentro de um homem!

                                                      Luís Carlos da Fonseca

Do livro: "Antologia da Academia Cadeira 18", org. Arnaldo Niskier, ABL, 1999, RJ
Enviado por Arnaldo Niskier

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