Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), com um verso do poema "Mas viveremos", autor Leo Santana

 

Um poeta em carne viva

Um poeta em carne viva
não cabe
nas reentrâncias simétricas
das mentes obtusas
que desconhecem
os mapas de Tolkien
o barco bêbado de Arthur
a Pasárgada de Bandeira.

Um poeta em carne viva
abriga a terrível pulsação
de um coração-estrela
e um silêncio
encravado nas entranhas
como filho bastardo
que nasce
à revelia do seu canto.

Um poeta em carne viva
acorda com o poema
escorrendo pela pele
e anota rápido o verso-raio
que invade o torpor
de estar vivo.

Um poeta em carne viva
pisa as pedras
imaginando-as
seda da China.

Um poeta em carne viva
é um louco
no tribunal das almas de chumbo:
culpado sempre.

Culpado de ser humano da fala ao falo.

                                                      Bárbara Lia

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