Em frente ao espelho com Leila Diniz
Onde Leila é mais próxima de mim?
Na carne viva,
solta, desajuizada, tô nem aí.
No jeito não vou
ou até vou (mas só vou
se quiser ir).
Onde sou mais Paulo em Leila?
Na exibição ostensiva da prenhez
(prenhez que a natureza me negou)
A vida em gestação, erguida
na barriga revelada na inteireza:
ei-la, minha barriga: é a vida!
Prenhez exibida na certeza
de que na explosão da vida
não há lugar pra pudor,
nem rubor de polidez
Onde mais Leila ocorre em mim?
Na vontade de ser só o que sou.
Na ausência de culpa, no prazer
de viver tudo por um triz.
Neste Paulo, inclusive José,
ser todo meu, completo, ao meu dispor
E Leila ser toda dela,
egoisticamente Diniz.
Onde sou mais Leila e seu sorriso?
Na vontade de não ter medo,
e no medo enorme que ela sentia
(que também sinto)
sem nem por isso deixar de mergulhar
no fundo do barril de absinto.
Na mulher solar, absoluta,
que para ser o que quis
foi inconveniente, infeliz,
mas de todas a melhor atriz
quando se fingiu até de puta
pra provocar os imbecis.
Onde Leila é mais eu,
e onde sou mais ela em mim?
Na vontade de ser isto que sou
com os erros, os acertos e os vacilos
e Leila, pelo medo sem grilos,
fêmea completa,
ensinando os homens a ser machos
para com sua força de macho lutarem
até que todas as mulheres do mundo
sejam o que Leila foi e o que Leila é:
maravilhosa, linda, insubmissa,
doida adorada, gostosa, iluminada
em verso e prosa,
apenas, tão-somente,
uma mulher.
Paulo José Cunha