PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE AMOR...

Pra não dizer que não falei de amor
despojei-me de qualquer medida,
encarei sem receio a própria vida,
sanei no verso torto toda dor;

busquei lembrar do brilho dos teus olhos,
do toque morno da língua em tua boca,
do teu corpo úmido, nú, sem roupa,
do teu regaço onde me recolho;

joguei por terra a vã filosofia,
transformei profundo abismo em ponte,
fiz do firmamento novo horizonte,
transpus em noite quente a tarde fria.



MORRER DE AMOR EU QUERO, MINHA AMADA

Morrer de amor eu quero, minha amada,
buscando em ti o gozo derradeiro,
fazendo disso a última empreitada
e do teu colo um nobre travesseiro;
romper febril o alvor da madrugada
e encontrar um porto alvissareiro,
onde em silêncio encontre a calmaria
e veja a noite escurecer o dia.

                                                    Clóvis Campêlo