Viva o Carnaval!
É a carne bacante
que salta na passarela.
É dela o instante,
é dela e só dela
o suor que lava o chão.
E se há chuva fora das fantasias
é a sanha dos céus
lavando o pecado sagrado de ser livre.
Viva o Carnaval!
Mesmo comprado pelas redes de TV
suas alegrias persistem!
Carnavalescos, passistas
e ourives detalhistas dos afrescos indizíveis
que dizem no pé que vivem,
que vivem, que vivem!
Vivam o Carnaval,
o corpo, o instinto e a magia
dos amores fugazes prestes a morrer
sangrando no chão sua poesia.
“Bumbum ... paticumbum ... prugurundum”
Oxossi, Iansã, Oxum ...
practi, practi, practi, practi,
agogôs, cuícas, pratos, tamborins ...
Pudesse não ter fim o momento franco
do encontro de pierrôs, colombinas e arlequins!
E o mundo pudesse aprender, enfim
a comunhão do negro com o branco!
Viva o Carnaval!
Mesmo em meio à fome ética,
moral e física e sua ferida cívica
exposta na quarta-feira de Cinzas.
Vivam as alegorias humanas ou estáticas
que serão sempre marcas da arte que saltita
emergindo profilática da avenida.
E o ano de servidão se camufla
na pele de um rei, de uma rainha,
de um escravo ou de um barão.
Viva o Carnaval!
Perucas, máscaras, tererês
Xangô, Iemanjá, Obaluaê ...
No devaneio de um novo mundo
feito de chocalhos, caixas e bumbos
onde deuses, desgovernos e misérias
esperam aplaudindo da platéia
o desaguar de uma geléia real.
E que se viva o Carnaval ...
Viva o Carnaval!
E que se viva ...
Viva!
Mauro Veras