Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), de Leo Santana, com um verso do poema "Mas viveremos"

 

O Poeta e o Nada

é como se

vozes

             em minha mente

mentindo   é como

se este por que

            em seus porquês me perguntassem:

Por que dos por quês  ter sempre um por que de porquês que em
porquês não se resumem?

Por quê?

        por que da pétala no asfalto
        murchar-se nos instantes?

Por que a moça que em seu olhos
se constrange orações

em horários subordinadas

                  não se esquece somente, somente se esquece subordinando-se
como que passiva frente à imagem de seu porque
no espelho? Por quê?

Por que esta infinitude de por quês querendo
extenuar o ser que para si já se é

ainda que

imagens

em minha mente mentindo

vozes não cessam
                      brotam

páginas

caos

expedientes  o galo num Gullar se emputecendo
com sujeiras, madrugadas, vertigens, este
este o Gullar
          um ser que não se é ou se se é
é unicamente a pose de sua voz
galopante, galopante na lentidão
de sua grisalha velocidade

sempre   sempre grisalha velocidade

desde sempre grisalha

nasceu grisalha com suas utopias, com suas democracias

com seu sonho de justiça
que nada distribui. Morre, morre na verdadeira burguesia. Morre. Grisalha. Morre.
E por quê?

                 Por que estes por quês me contaminando com o porquê

de seus por quês?

Por quê

        e tudo em minha mente mentindo
        num sujeito indeterminado

                          que se oculta na estrutura
na estrutura esquelética,

na estrutura

oblíqua

                                 dos pronomes: É para si ou sou um ser que em si já é?

Por quê? Por que tudo em ponteiros se resume ao que dos por quês?

Por quê? Por que leminskiamos as merdas

              de um nada, de uma piada

              que em seu tempo não passou e hoje por ter passado é Leminski porque
              assim quis do erro o seu errar

                                                   eternizá-lo para uma geração

de poses

de coisas

de nadas

                    Por quê? E tudo quando fora de seu tempo morre,

morre a morte que lhe faz um busto

                                       um busto a ecoar vampiros, bruxos, Leminskis, Gullares

enquanto

donas de casa com seus poodles passeiam
vendo nos outdoor's

                        ofertas do saldão de quartas-feiras. E ecoamos o busto que ecoa a morte de sua morte, a morte de seus nomes e

lhes


- do nome o pronome - aviva a coisa. Eis o seu porquê. E por quê? Estes que hoje são não são nada

além

imagens

coisas, ideologias que não se furtam
de suas mentiras,

                          coisas      extraviadas na singularidade dos gêneros

                                em prateleiras e não se conseguem ser um porquê
porque se assim o fossem

teríamos de Münchhausen

                  o seu trilema, o seu continumm, a sua incerteza

ou seja

a merda do que somos é. É para alguma coisa que...

"Bem vindo ao mundo real"

                                                                             Diego Ramires Bittencourt

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