Ouve, amada, o som da flauta desvirginando a manhã.
É o que a minha alma tem de mais mística e de pagã.

Ouve, amada, a sístole do tambor enquanto a vida segue.
É o meu coração que não sabe ser triste nem alegre.

Ouve, amada, um fio de som na noite fria, outonal.
É o cantochão de minha tristeza de vidro e de metal.

Ouve, amada, a música festiva da pequena praça da cidade.
São os guizos do meu amor, minha ternura com alarde.

                                                    Nei Leandro de Castro

Do livro: Diário íntimo da palavra, 7Letras, 2000, RJ