Mentira...

Tanta cousa passou... E, no entanto, vivemos
noutros tempos, felizes, como namorados...
— Nossa vida... ora a vida, era um barco sem remos,
levando-nos ao léu... a sonhar acordados...

Ontem juntos, felizes... hoje, separados,
— (não pensei que este amor chegasse a tais extremos...)
E sorrimos em vão... sorrimos conformados
na mentira cruel de que a tudo esquecemos. . .

Cruzamos nossos passos muita vez: — é a vida!
— eu, volto o rosto (fraco à paixão que ainda sinto),
tu, recalcando o amor, nem me olhas, distraída...

Mentira inútil, cruel... se ontem, tal como agora,
tu sabes que padeço, sabes quanto eu minto,
e eu sei quanto este amor te atormenta e devora!

                                                              J. G. de Araújo Jorge