AMOR

Isto é amor... tanto enlevo... um jeito assim tão triste
que é saudade e é lembrança... um desmedido espanto...
um sorriso fugaz que ao lábio ainda persiste
e desce pela face em lágrima de pranto...

Isto é amor... e é tão belo... e empolga tanto, tanto!
Vida, alma, coração... Oh! nada lhe resiste!
É humilde e soberano... é renegado e é santo,
a mais bela emoção, a mais total que existe!

Isto é amor... Teu amor! E eu que por ele choro,
e rio, e vibro, e existo, apenas peço, imploro
que não mo tire Deus, senão quando eu morrer...

Ciumento quanta vez, em lágrimas imerso,
é tudo para mim: céu, mar, luz, universo...
E é só por ele é glória a glória de viver!...



ETERNAMENTE

Que importa entre ambos nos perpasse ano após ano?!
Ontem que te beijei — solstício de verão...
Hoje, o inverno gemendo, imenso e desumano,
e de novo me tens pesand ao coração...

Ainda recordo bem do leito alvo e profano,
onde o corpo estendi na régia profusão...
E a primavera moça, o nosso amor insano
saudava, no verdor da relva pelo chão...

Que importa o tempo estranho, e denegrido, e triste
entre nós interponha o vulto da asa morta,
se o beijo do verão repete o mesmo ardor

do encontro à primavera?! Oh nada, nada existe,
senão tua ânsia e a minha... Oh, nada, nada importa
senão teu lábio e o meu... teu beijo e o nosso amor!...

                        Seleneh de Medeiros

Do livro: Alma cigana (Poemas de amor), A Estante, 1959, RJ