CARNAVAL? - É KAOS NA RUA!
ou HOMENAGEM A AUGUSTO BOAL (*)

A essência da minha poesia
é o Kaos
é o não
é ninguém
é a total ausência de propósito.

Não pense que ela é depósito
de insultos
protestos
padecimentos
ou desilusão.

Faço poesia
para exaltar a desordem
a inconformidade
a infelicidade
ornada de confetes e serpentinas
pisoteada a cada esquina.

Venham todos
todos à rua
desvestir a verdade
travestir as convicções apodrecidas
subverter a subversão
semear a inquietude em cada coração.

Venham
gritem
espantem-se
nada é o que parece
toda esperança com carinho acalentada
pode ter nascido do autoritarismo
e da mais sórdida imposição.

Venham
junto com as cinzas
que a chuva transformou em lama
rasguemos todas as fantasias
dancemos na ventania
cantemos músicas desafinadas
sem saber suas letras e melodias
mergulhemos no seco oceano
dos nossos sonhos desconhecidos
e distante do próprio umbigo
apesar de todo o perigo
ir de encontro à parede
da inefável liberdade de Ser.

                                      JL Semeador

(*) Este poema foi feito, em 25/02/2009, se não me engano, uma terça-feira de carnaval, depois de assistir a um documentário sobre Augusto Boal, que se encontrava em estado terminal, sofrendo de leucemia, mal que o levou à morte no dia 02 de maio seguinte. Boal foi diretor do Teatro Oficina em São Paulo, trajetória interrompida ela ditadura militar. Foi preso e exilado em 1971. Fundador do Centro do Teatro do Oprimido. Suas idéias podem ser resumidas na seguinte frase:” O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos 'espect-atores'.”

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