Poema de Ano Novo

Os novos anos serão felizes
Se aos matizes ínfimos do primeiro dia
Juntares a alegria de um amigo fiel,
A cor do céu, e tudo o que ela tem a dizer,
A companhia de ser quem você é,
homem ou mulher, bicho e planta.

Haverá nesse dia algo em ti que canta, que sente saudade E quando chegar a tarde, um cadinho
De sonho despontará distraído de tua testa,
E a festa de veres seguirá irreprimível, porque aí será que o impossível
e o fantasmático se farão
Constantes e naturais, como a luz e o canto dos pássaros
E, finalmente, passará aquela dor obstinada, brotará o perdão
adivinhado, nada mais a temer sob a fúria tempestuosa de raio e trovão.

Restará teu coração inteiro, novamente menino, o pequeno esboço de um
jardim vindouro O alforje de couro macio que atravessa o vazio da incompreensão,
O frio dos desdizeres, e o arrepio dos abismos da existência
Apenas com sua ciência benfazeja de urdir afetos usando água e ar
Na peleja de sempre, e sempre, recomeçar.

                                        Renato Torres

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