VOZ DO OUTONO
Ouve tu, meu cansado coração,
O que diz a voz da Natureza:
— “Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,
Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!
Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,
(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
os sonhos ideais que tu sonhaste!”.
Antero de QuentalDo livro: Sonetos, (antologia), org. José Lino Grunewald, Nova Fronteira, 1991, RJ