Romance de Cabiúna
Cabiúna era menino
E dizia: “Eu vou na Europa”.
A mãe dele respondia:
“ – Fica quieto, Cabiúna.
Cabiúna, não me amola”.
A mãe dele não gostava.
Ralhava sempre, ralhava...
De dia ela costurava
Em frente ao mar, na janela.
E, costurando, cantava.
“ – Minha mãe, eu cresço logo,
Fico grande e vou na Europa.
Deixa eu ir, minha mãezinha?”
“ – Que menino sem cabeça!
Sai daqui, não me aborreça.”
“ – Deixa eu ir, minha mãezinha...”
Mas toda noite ela entrava
No quarto em que ele dormia
E, junto dele, chorava.
Cabiúna ficou grande,
Ficou grande e foi-se embora.
Trabalhando de taifeiro
Num navio brasileiro.
Aconteceu que uma noite,
Junto de um cais estrangeiro,
Virou criança: chorava.
Alguém, passando, assobiava
Uma canção parecida
Com as que a mãe dele cantava.
Ribeiro Couto
Do livro: Poesia Brasileira para a Infância, de Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, Saraiva, 1968, São Paulo
Enviado por Leninha